quinta-feira, 30 de setembro de 2010

VII Jornada Maranhense de Sociologia

Nesta última terça feira, 28 de setembro de 2010, inicou-se na Universidade Federal do Maranhão - especificamente no Centro de Ciências Humanas - a VII Jornada Maranhese de Sociologia.
Nesse primeiro dia foi possível assistir a conferência do professor André Luiz Marenco dos Santos¹ cujo título era: Topografia do Brasil profundo: partidos, cargos e políticas nos municípios brasileiros.

Entre outras coisas, esse professor problematizou autores clássicos como Raimundo Faoro e Victor Nunes Leal e, através de um robusto banco de dados, demonstrou a importância de relativizar alguns conceitos e termos que explicitam a relação de interdepência entre poder central e local assim como possíveis relações entre urbanização e continuidade de determinadas legendas no poder.

No segundo dia da VII Jornada Maranhense de Sociologia iniciaram-se, pela parte da tarde, as exposições de painéis com resultados de pesquisas de alunos de graduação e Pós-graduação das Universidades Federal e Estadual do Maranhão (UFMA e UEMA).




Às 14:00 horas iniciou-se a 1° mesa redonda, Política,Cultura e Educação coordenada pela Prof.ª. Dra. Eliana Tavares dos Reis² e composta pelos professores , Ernesto Seidl ³,Igor Gastal Grill[4] e a doutorando Mariângela Bairros [5]. Já às 18:00 horas deu-se inicio a mesa redonda, Questões Étnicas e Políticas Públicas coordenada pelo Professor Dr. Álvaro Roberto Pires [6] e composta pelos professores Paulo Sérgio da Costa Neves [7]e Carlos Benedito Rodrigues da Silva [8].

Com o auditório B do centro de Ciências Humanas lotado, pode-se presenciar nessas duas mesas redondas, a exposição de pesquisas sobre escolarização e recrutamento de agente em movimentos sociais, problematizações sobre termos como oligarquia, sobre conceitos e categorias utilizadas nos estudos étnicos, construção dos porta vozes autorizados a levantar bandeiras da democracia e cultura entre outros..


No dia 30 de setembro, na mesa chamada Instituições e Representação Política, coordenada pela Prof.ª Dra. Arleth Santos Borges[9] e composta pelos professores doutores Carlos Augusto da Silva Souza[10],Maria Izabel Noll¹¹ e Roberto Ribeiro Correa,¹² Foram abordados temas como a representatividade política em tempos de democracia e descentralização, um banco de dado sobre a geopolítica de quatro partidos no Estado do Pará, uma geografia eleitoral que buscava expor padrões de competição poítica nesse mesmo estado e um estudo sobre a dinamica politica na camara de vereadores de São Luís.


No último dia da Jornada, na mesa Economia Popular, Mercado e Identidade Cultural , coordenda pelo Paulo Keller¹³ e composta pelos professores Jacob Carlos Lima[14] e Raquel Noronha[15]. Nesse mesa foram expostas pesquisas relacionadas à cooperativas que atuam na perspectiva da economia solidária e também sobre o designer e a construção de produtos com identidade local.


Houve ainda a conferência de encerramento com a palestra entitulada " Os economistas analisam ou produzem a economia ? Os economistas rurais e o mercado após a 2° guerra mundial" proferida pela professora Marie-France Garcia [16]e coordenada pelo professor Marcelo Domingos Sampaio Carneiro[17] .Nessa conferência foi abordada o contexto de automização e produção da economia rural na França no período pós II guerra.


Após as palestras ocorreu o lançamento da 13° edição da Revista Pós Ciências Sociais e do Museu Virtual da Memória Afro-Brasileira e Africana do Maranhão, com a presença do Reitor Natalino Salgado do professores Sérgio Figuereido Ferreti[18], Horácio Antunes de Sant'Ana Júnior[19], Marie France Garcia,Igor Gastal Grill e o coordenador do Mestrado de Ciências Sociais, professor Marcelo Domingos Sampaio Carneiro.


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1Doutor em Ciência Política pela UFRGS (2000), professor adjunto 4 e coordenador do PPG em Ciência Política da UFRGS (2004-2006), integrando a linha de pesquisa Partidos, Eleições e Instituições Políticas Comparadas, com trabalhos sobre recrutamento legislativo, carreiras políticas e competição eleitoral. Membro da diretoria da Associação Brasileira de Ciência PolíticaAssociação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciências Sociais (2005-2006) e coordenador do Fórum Nacional de Programas de Pós-Graduação em Ciência Política e Relações Internacionais (2004-2006 e 2006-2008).

2 professora e pesquisadora do Departamento de Sociologia e Antropologia e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais na Universidade Federal do Maranhão. Tem experiência na área de Ciências Sociais, com ênfase em Ciência Política e Sociologia Política.

3 professor Adjunto da Universidade Federal de Sergipe, Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e é membro do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFS. Coordena o Laboratório de Estudos do Poder e da Política (LEPP) e também integra o Grupo de Pesquisa em Ciências Sociais da América Latina (CISOAL), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É coeditor da Revista TOMO.

4Professor Adjunto III da Universidade Federal do Maranhão. Está vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFMA e é o Editor da Revista Pós Ciências Sociais. Trabalha em pesquisas que examinam os processos, condicionantes e lógicas de seleção de elites.

5Professora da Faculdade de Educação (FAE) da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Doutoranda em Educação na UFRGS (2005), integra o Núcleo de Políticas e Gestão da Educação da Faculdade de Educação da UFRGS, desenvolvendo pesquisa sobre o trabalho docente na rede pública face a propostas de mudanças institucionais.

6 professor adjunto 4 da Universidade Federal do Maranhão, lotado no Depto. de Sociologia e Antropologia e docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais. Têm experiência na área de Antropologia, com ênfase em Antropologia das Populações Afro-Brasileiras.É membro do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB), e membro do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UFMA. Ex-Diretor do Depto. de Pós-Graduação (DPG) pertencente a Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PPPG) da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) durante o período de 2005 a 2007, vice-coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS) da UFMA - gestão 2009/2011. Investigador do Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto (CEAUP)

7 professor associado da Universidade Federal de Sergipe. Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Sociologia Política, atuando principalmente nos seguintes temas: direitos humanos, cidadania, segurança pública, relações raciais e movimentos sociais.

8professor Associado do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, do Departamento de Sociologia e Antroplogia da Universidade Federal do Maranhão. Tem experiência na área de Antropologia, com ênfase em Antropologia das Populações Afro-Brasileiras, atuando principalmente nos seguintes temas: diversidade cultural, relações étnico-raciais, e ação afirmativa. É Presidente do Centro de Estudos do Caribe no Brasil e Coordenador Geral da Associação Maranhense de Pesquisas Afro-Brasileiras.

9 Professora Adjunta do Departamento de Sociologia e Antropologia e do Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão, onde trabalha desde 1991 desenvolvendo atividades de ensino e pesquisa relacionadas aos seguintes temas: poder legislativo; representação, partidos e eleições no Maranhão; movimentos sociais, direitos humanos e teoria política.

10 Possui mestrado e doutorado em Ciencia Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do RJ/TEC., atuando principalmente nos seguintes temas: democracia, geografia eleitoral, representação territorial, partidos políticos, competição política e eleições, desenvolvimento da amazônia e urbanização na Amazônia.

11Coordena o Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UFRGS. Tem trabalhos na área de Ciência Política, com ênfase em Estudos Eleitorais e Partidos Políticos, atuando principalmente nos seguintes temas: partidos políticos, democracia, eleições, poder legislativo e elites.

12 Professor Adjunto IV da Universidade Federal do Pará. Dedica-se a pesquisas nas seguintes áreas: estudos eleitorais e partidários, gestão governamental, concepção de indicadores sociais, elaboração, análise e avaliação de projetos sociais e econômicos. Desenho de amostra e pesquisa de survey.
13 Professor Adjunto I do Departamento de Sociologia e Antropologia e do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais (PPGCSoc) da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Lider do Grupo de Estudos e Pesquisas "Trabalho e Sociedade" do PPGCS/UFMA onde atua na Linha de Pesquisa: Relações de Produção e Ação Coletiva.

14 Pós-doutorado no Department of Urban Studies and Development do Massachussetts Institute of Technology (EUA-2001). Foi professor da Universidade Federal da Paraíba(1982-2004) e atualmente é Professor Titular no Departamento de Sociologia da Universidade Federal de São Carlos.

15 Professora assistente do Departamento de Desenho e Tecnologia da Universiade Federal do Maranhão, onde coordena a Especialização em Design Gráfico e o projeto Iconografias do Maranhão.

16 Instituto Nacional de Pesquisas Agronômicas e. Centro de Sociologia Européia – PARIS - FR

17
Atualmente é professor adjunto 3 da Universidade Federal do Maranhão. Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Sociologia Rural, Sociologia Econômica, Sociologia do Trabalho e Sociologia do Meio Ambiente.
18 Professor Emérito da Universidade Federal do Maranhão tendo sido Coordenador da Graduação em Ciências Sociais e dos Mestrados em Políticas Públicas e em Ciências Socias. Áreas preferenciais de pesquisa e orientação: religiôes afro-brasileiras, tambor de mina, Casa das Minas, cultura popular, tambor de crioula e sincretismo
19Professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCSoc); professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidades e Ecossistemas e líder do Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA), registrado do Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

QUEM SOMOS


Histórico do Blog


      O Blog manguevirtual, conhecido como manguesociológico, surgiu no ano de 2010 como ferramenta de auxilio no trabalho com a docência no ensino médio.
 A história desse veiculo,de difusão de conhecimento em Sociologia, se confunde com  várias etapas de minha caminhada pela docência.  


No ano de 2010 iniciei meu trabalho na docência, no colégio Liceu Maranhense, quatro anos após a Resolução n.º4, de 16 de agosto de 2006 - da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CEB/CNE)- que determinava a obrigatoriedade dos ensinos de sociologia e filosofia no ensino médio.  Após verificar e analisar o material produzido pelo governo do estado do Maranhão, optei por produzir meu próprio material, disponibilizando-o no blog como uma forma de socializar minha experiência preliminar com outros professores cuja missão também era de desenvolver e alinhavar uma metodologia de ensino que fornece sentido e legitimidade para a nova disciplina oferecida ao público de jovens e adolescentes que compunham a maioria das turmas do ensino médio.


Fruto de um trabalho sério e cauteloso, o manguesociológico ganhou cada vez mais notoriedade junto a professores e pesquisadores de vários cantos do Brasil, tendo seus conteudos referenciados em um conjunto de espaços espacializados em educação e  sociologia como: o  site do professor, vinculado Ministério da Educação e Cultura(MEC), que indica o blog como fonte para a preparação de aula sobre instituições sociais. Pode-se citar também o livros “Sociologia para Jovens do Século XXI” de  de Luís Fernandes de Oliveira e Ricardo Cesar Rocha da Costa, e  “Sociologia para o Ensino Médio” de Nelson Dalcio Tomazi.  


            No trecho (acima) do livro de Nelson Dalcio Tomazi, o mangue Sociológico aparece como um espaço de debate que tem garantido visibilidade a Sociologia. Já no trecho (ao lado) extraído do livro " Sociologia para Jovens do Século XXI" o destaque é dado  aos temas: estratificação e mobilidade social, explicados no mangue sociológico.

            Enfim, compreendendo a importância da Sociologia, tanto no processo de formação escolar do ensino médio, quanto como forma sistematizada de interpretar diversos fenômenos  da Sociedade contemporânea, o mangue sociológico segue ao longo desses oito anos, trazendo conteúdos críticos, divulgando eventos e importantes produções que tendem a somar com a difusão e consolidação dessa área de conhecimento, nos mais diversos estratos.  Sem nenhum fim lucrativo e inspirado na importância do mangue para a difusão da vida, busca-se aqui,  espalhar e expandir informações vitais para a compreensão de fenômenos sociais cotidianos.

Blogueiro 


 Jesus Marmanillo é professor de Sociologia no curso de Ciências Humanas/ habilitação em Sociologia no Campus de UFMA da cidade de Imperatriz-MA. Doutor em Sociologia pela Universidade Federal da Paraíba. Investigar temas relacionados a movimentos sociais, questões urbanas, direitos humanos e trabalho. Além da pesquisa cientifica e docência no ensino superior, tem-se dedicado ao trabalho de popularização e difusão da Sociologia para o conjunto da Sociedade Imperatrizense e Maranhense, Mais informações podem ser conferidas nos links e imagens abaixo:

Jesus Marmanillo












quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O suicídio tem lógica ?


Por: Andrei Albuquerque*

A Regina Haddad

De ato desmedido, impensado, a anseio mórbido, o suicídio provoca aos que ficam um vácuo pesado como uma bigorna, porque comporta uma inflexão agressiva à família, à sociedade etc. Obviamente descrito como afecção psíquica, o autocídio perde seu sentido trágico, que se encontra além de qualquer valoração moral ou consideração de pusilanimidade existencial.

Presente, cooptado, em diversas entidades clínicas o suicídio não adquire o status de mal psíquico independente; veremos sua manifestação em quadros depressivos, nas psicoses, e em estados de angústia em paroxismo como fruto de um ato irrefletido, impulso avassalador, visando cessar a dor subjetiva insuportável. Quanto ao que se pode denominar como anseio mórbido pela própria morte, encontrar-se-á, precisamente, na melancolia –– a depressão profunda. Tal anseio seria da ordem de um cerimonial esmerado, acalentado, ante a insuportabilidade, o fastio, o peso, de se gozar a vida em suas limitações.

Célebre estudo, contrapartida à catalogação nosográfica, ‘O suicídio’ (1897) de Durkheim investiga as causas sociológicas e culturais para o ato de se matar, criticando a consideração psiquiátrica que julgava os suicidas como loucos –– Esquirol, psiquiatra francês, via o suicídio como ato de alienado. Evidente que psicóticos cometem suicídio em seu flagelo delirante, mas reduzir o sentido trágico do suicídio até tomá-lo apenas por ato tresloucado é solapar sua conotação subjetiva e até cultural.

No Japão feudal havia o ritual chamado Seppuku, popularmente conhecido como harakiri, que significa “cortar a barriga”, realizado pelos samurais como medida última para recuperar a honra maculada. O Seppuku consistia em um ritual preciso e legitimado no qual o samurai se matava na presença de outros –– o corte, o harakiri, era padronizado. Caso em certas circunstâncias o samurai derrotado em uma guerra não quisesse se submeter ao ritual, era considerado um ronin, um samurai desonrado.

O ritual do Seppuku evoca uma situação de difícil apreensão para a cultura ocidental, mas seria leviano tornar patológico o que em determinada civilização foi fato social aceito, legitimado. Atualmente, o Japão apresenta altos índíces de suicídio combatidos pelo governo. Relevante notar que o suicídio melancólico, em seu anseio mórbido, apresenta ritual, cerimonial, não socialmente construído como no seppuku, mas individualizado, subjetivo.

Considerar o autocídio somente sob a perspectiva sociológica traria o impasse ante tragédias pessoais que não se ajustam a essa perspectiva. O suicídio devido a um ato de desespero e o suicídio melancólico, mórbido, escapam a uma justificativa grupal, tendo sua própria lógica. Explicar o suicídio, em seu anseio mórbido, devido a injunções sociais é perder o sentido do ato cometido por Emma Bovary, personagem do romance ‘Madame Bovary’ (1857) de Gustave Flaubert, que por insatisfação acerba em seu casamento toma arsênico.

E é de lembrar o impulso desmedido de Ofélia, em Hamlet de Shakespeare, que se afoga por desespero amoroso. Um Werther cabeçudo, lânguido, continuará a habitar as páginas dos jornais, as línguas ferinas, e o vazio amargo que talha os que ficaram. Werther, personagem de ‘Os sofrimentos do jovem Werther’ do escritor alemão Goethe, mata-se por não consumar seu amor por Charlotte.

Em um consultório de psicanálise, quando um paciente manifesta a possibilidade de vir a se suicidar, ficamos atentos: não por singelo posicionamento moral, maniqueísta, mas por vermos o risco que o paciente corre sob sua maneira de encarar as pressões da alteridade, ou seja, as exigências familiares, sociais etc que ganham peso e caráter incontornável.

Freud, ao analisar a melancolia, entendia o ato do suicida como um “homicídio” um ataque ao mundo que tombava sobre o ”eu” do melancólico, buscando o efeito de um afastamento, de um alívio desditoso. Para a psicanálise o suicídio não é um ato aguerrido de liberdade, senão atestado de aprisionamento ao outro tornado monstro – incapacidade de bem-dizer a vida.

Além de quaisquer posições filosóficas, existencialistas e psicopatológicas, o suicídio possui sua excruciante lógica subjetiva e cultural que requer a atenção e não mero julgamento que o considere infâmia, heresia.

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*Psicanalista, membro do Instituto Freudiano de Psicanálise(ifp) e Coordenador Adjunto do Programa Despertar (alcóolismo e toxicomania) na Deso. asralbuquerque@yahoo.com.br

texto extraído de http://www.cinform.com.br/blog/Andreialbuquerque às 20:51 em 23 de setembro de 2010

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Antropologia como texto: relações entre o “Estar Lá” e o “Estar aqui”

Por : Debora de Jesus Lima Melo *


Clifford Geertz é considerado o fundador de uma das vertentes da Antropologia, a Antropologia Interpretativa, a qual tem como uma de suas características a leitura das sociedades como textos ou como análogas a textos.

No livro Obras e Vidas: o antropólogo como autor a discussão recai sobre a etnografia enquanto um trabalho mediado entre os dois âmbitos relacionados com a sua construção : o “estar lá” e o “estar aqui”, isto é, o âmbito da pesquisa de campo, e o âmbito acadêmico. Como compatibilizar o mundo do campo com o mundo acadêmico é a questão problematizada no livro.

No capítulo “Estar lá: a antropologia e o cenário da escrita” Geertz apresenta, inicialmente, as objeções destinadas à concepção da etnografia enquanto “espécie de escrita”, estas concordam com a idéia de que o caráter literário atribuído aos textos etnográficos não se constitui em uma preocupação preponderante, uma vez que o trabalho de etnógrafo é “ir a lugares, voltar de lá com informações disponíveis à comunidade especializada” através de textos “simples e despretensiosos” que não sejam “um mero jogo de palavras, como se presume que sejam os poemas e os romances”.

O sentido para tal temor reside, segundo Geertz, no fato de que compreender o caráter literário da antropologia colocaria em risco a defesa de que os textos etnográficos convencem pela simples abundância de seus detalhes culturais. Entretanto, o crédito dado aos antropólogos pela extensão de suas descrições não se sustenta. O critério de verdade reside menos na aparência factual, ou no ar de elegância conceitual. O convencimento está no fato de haverem realmente estado lá.

Diante disso, descobrir como o convencimento é criado fornece os critérios para o julgamento do trabalho. “A crítica dos escritos antropológicos deve brotar de um engajamento com eles, e não de pré-concepções sobre como deve ser a antropologia para se qualificar como ciência” (pg. 17).

Assim, apresenta a questão “o que vem a ser um autor na antropologia”. Para responder a esta Geertz, toma como referência a distinção dos campos de discurso apresentada por Foucault, a saber: o da função-autor e o da ciência. Na análise de Foucault, os discursos literários passaram a ser aceitos somente quando eram dotados da função-autor. Desse modo, Geertz conclui que na antropologia, salvo exceções, “os nomes das pessoas são ligadas a livros e artigos e, mais ocasionalmente, a sistemas de pensamento”. Sendo assim a antropologia está praticamente toda do lado dos discursos literários.

Com relação a isso surgem as seguintes questões: “Como se evidencia no texto a “função-autor”? De que o autor é autor?”. A primeira questão é chamada de “questão da assinatura”, isto é, a construção de uma identidade autoral. A segunda refere-se a “questão do discurso”.

A questão da assinatura tem sido colocada na etnografia de forma disfarçada, apresentada como um problema de ordem epistemológica e não de ordem narrativa, isto é “O texto é apresentado como decorrente das complexidades das negociações entre o eu e o outro e não entre o eu e o texto”. A dificuldade reside na “estranheza de construir textos ostensivamente científicos a partir de experiências em grande parte biográficas” (pg. 22).

Observa-se assim, a oscilação, nos textos etnográficos, entre o “olimpianismo do físico não-autoral” e a “consciência do romancista hiperautoral”.

A segunda questão (a do discurso) é apresentada em diálogo com Foucault e Barthes. O primeiro faz uma tipologia de autores: aqueles “a quem a produção de um texto, um livro ou uma obra pode ser legitimamente atribuída – produtores de textos particulares” e aqueles “de peso bem maior, que são autores de muito mais que um livro, mas de uma teoria, uma tradição – produtores de discursividade” (pg. 31).

Barthes formula a distinção nos termos: escritor e autor. Um escritor produz um texto, exerce uma atividade, sendo comparado a um escriba. Já um autor produz uma obra, cumpre uma função, participa analogamente do papel de sacerdote. Para um autor “escrever é um verbo intransitivo”, enquanto que para um escritor “escrever é um verbo transitivo”.

Os antropólogos, ainda parecem inclinar-se entre as duas distinções. “A incerteza que aparece, em termos de assinatura, como um até que ponto e de que maneira invadir o próprio texto. E, aparece, em termos do discurso, como um até que ponto e de que maneira compô-lo imaginativamente” (pg. 35).

Do trabalho de campo, isto é, da experiência do “Estar lá” que, segundo Geertz, refere-se a uma experiência de cartão postal, emerge outro ponto, que será discutido no capitulo seis: “Estar aqui: de quem é a vida, afinal?”. O que se coloca em pauta neste ponto é a discussão do Estar aqui, como âmbito que produz o antropólogo, que “faz com que o texto antropológico de alguém seja lido... publicado, criticado, citado e ensinado” (pg.170).

Neste sentido, a questão formulada refere-se às transformações ocorridas tanto no mundo estudado quanto no mundo acadêmico. Tais transformações são fruto das novas maneiras assumidas pelo mundo depois do colonialismo e do permanente processo de globalização. “O fim do colonialismo alterou radicalmente a natureza da relação social entre os que perguntam e observam e os que são perguntados e observados” (pg. 172).

Geertz apresenta a confusão entre, diante destas transformações, o objeto e o público. Isso faz com que os antropólogos se questionem: “Quem deve ser convencido? E convencidos de quê?” (pg.174).

A cena antropológica passa a ser permeada pela desconfiança, pelo mal-estar, já que a “se começa a olhar para os textos de etnografia, além de olhar através deles, e se percebe que eles são construídos para persuadir aqueles que os produzem passam a ter mais porque responder” (pg. 181).

Assim Geertz pergunta qual a razão para se fazer antropologia hoje, dando como resposta o seu caráter de servir de comunicação entre os grupos que são forçados a convivência cada vez mais cotidiana.

Isso envolve ainda a capacidade de convencimento, de que o que eles estão lendo é um relato autêntico, escrito por alguém que Esteve Lá. Isso evidencia, assim, o vínculo textual entre as facetas do Estar Lá e do Estar Aqui da antropologia, a construção que é imaginativa, que se adapte ao algo novo que emerge no mundo do campo e no mundo acadêmico.

REFERÊNCIAS

GEERTZ, Clifford. Obras e Vidas: o antropólogo como autor. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2005.

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*É mestranda em Ciencias Sociais, na Universidade Federal do Maranhão (2009). Possui graduação em Pedagogia pela Universidade Estadual do Maranhão (2008), atuando principalmente nos seguintes temas: Educação e Questão étnico-racial.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Qual a diferença entre Durkheim, Karl Marx e Max Weber?

Por: Por Pedro Jorge Chaves Mourão *







Uma vez me deparei com essa pergunta na Internet. “Qual a diferença entre Durkheim, Karl Marx e Max Weber?”. Vi a seguinte resposta:

Émile Durkheim (Épinal, 15 de abril de 1858 — Paris, 15 de novembro de 1917) é considerado um dos pais da sociologia moderna. Durkheim foi o fundador da escola francesa de sociologia, posterior a Marx, que combinava a pesquisa empírica com a teoria sociológica. É reconhecido amplamente como um dos melhores teóricos do conceito da coerção social.Partindo da afirmação de que "os fatos sociais devem ser tratados como coisas", forneceu uma definição do normal e do patológico aplicada a cada sociedade.

Karl Heinrich Marx (Tréveris, 5 de maio de 1818 — Londres, 14 de março de 1883) foi um intelectual alemão considerado um dos fundadores da Sociologia. Também podemos encontrar a influência de Marx em várias outras áreas tais como: fil
osofia, economia, história já que o conhecimento humano, em sua época, não estava fragmentado em diversas especialidades da forma como se encontra hoje. Teve participação como intelectual e como revolucionário no movimento operário, sendo que ambos (Marx e o movimento operário) influenciaram uns aos outros durante o período em que o autor viveu.Atualmente é bastante difícil analisar a sociedade humana sem usar seu pensamento como referência, mesmo que a pessoa não seja simpática à ideologia construída em torno de seu pensamento intelectual, principalmente em relação aos seus conceitos econômicos.

Maximillian Carl Emil Weber (Erfurt, 21 de Abril de 1864 — Munique, 14 de Junho de 1920) foi um intelectual alemão, jurista, economista e considerado um dos fundadores da Sociologia. Seu irmão foi o também famoso sociólogo e economista Alfred Weber e sua esposa a socióloga e historiadora de direito Marianne Schnitger.A análise da teoria weberiana como ciência tem como ponto de partida a distinção entre quatro tipos de ação
:A ação racional com relação a um objetivo / A ação racional com relação a um valor/ A ação afetiva / A ação tradicional

Achei a resposta muito simplória para acreditar que era só isso que os diferenciavam. Lembrei de quando eu era pequeno e via televisão o dia inteiro. Aquela caixa mágica era meu vinculo com a sociedade para além do meu lar.

Na escola nunca fui o mais popular, nem fui bom em esportes. Hoje dou boas gargalhadas lembrando que as moças só falavam comigo para pedir as respostas das questões de matemática ou para pedir uma caneta.

Aos poucos fui me tornando mais introspectivo e aquela caixa mágica foi se tornando uma referência para mim. Já adulto comprei um computador e isso significou muito para meu trabalho. Então, meio que troquei a TV pelo computador, vale lembrar que os livros nunca perderam sua função para mim. Minha mãe uma vez me pegou literalmente com o rosto na tela da TV, ela me perguntou o que eu via ali, eu respondi que via pontos vermelhos, azuis e verdes.
Esses pontos ficaram na minha memória. Como podem 3 cores conseguirem mostrar todo o mundo?

Entrei na Universidade e descobri Marx, Durkheim e Weber, Os 3 porquinhos. Na minha mente de alguma forma eu associei as cores aos autores, Marx era vermelho, Durkheim era Azul, e Weber era verde.

Sempre vinculei o pensamento de Durkheim a busca da harmonia na sociedade, já Marx eu associava a transformação, a busca pela ruptura de velhos paradigmas, e Weber para mim era alguém que buscava os sentidos e os rumos que a sociedade poderia ter.

Como três pensamentos distintos podem ter o poder de descrever o mundo? Eu achava isso incrível e por vezes tentei desconstruir as “casas dos 3 porquinhos” com o lobo mal da realidade. Mas sempre uma das “casas -teorias” deles ficava em pé.


Analogia que eu fazia com o conto dos três porquinhos, que cada um construiu uma casa de material diferente buscando se resolver o mesmo problema, o lobo mal que para mim era a realidade, que destrói todo e qualquer idealismo ou pretensa visão de mundo que tente confinar a realidade.

Mas aquelas cores?

Depois descobri que aqueles pontos eram pixels, e que cada um deles contém as três cores: azul, verde e vermelho e que combinando tonalidades dos três pontos é possível exibir pouco
mais de 16.7 milhões de cores diferentes. Foi então que as coisas começaram a fazer mais sentido.
Da mesma forma que somente três cores tinham a capacidade de representar a realidade, os clássicos conseguiam representar de alguma forma uma teoria social que mostraria a realidade nem que fosse de maneira desbotada.

Entendi que a habilidade das três teorias clássicas consiste justamente na capacidade delas de serem distintas entre si. Assim como na história dos três porquinhos, duas das três casas poderiam cair, mas pelo menos uma vai ficar de pé e dar conta do recado de pelo menos igualar força com a realidade cruel do lobo mal.

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* Possui experiência na área de Ciência Política, com ênfase em História Política em específico na temática da Representação Símbólica no Poder Legislativo. Atualmente, sou mestrando em sociologia pela Universidade Federal do Ceará. Estudo a formação do habitus político dos deputados da Assembleia Legislativa do Ceará, e sou Membro do Laboratório Grupo de Estudos da Conjuntura e das Idéias Políticas (GECIP-UECE).

Texto extraído do http://cienciasocialceara.blogspot.com/ em 21/09/2010 as 22:40


domingo, 19 de setembro de 2010

A Sociologia e o Século XIX : uma breve introdução




Por Jesus Marmanillo Pereira

Discutir a sociologia enquanto Ciência Social significa, antes de mais nada, argumentar sobre o processo de formação de uma área de conhecimento cientifico , ou seja, como a sociologia obteve objeto de estudo, teoria e métodos próprios. Para tanto é importante considerar tanto o contexto histórico quando os principais teóricos da sociologia.
Ao falar das grandes revoluções européias dos séculos XVIII e XIX, o historiador Eric Hobsbawn (2006) afirma a Revolução Francesa influenciou decisivamente uma idéia de política, Já a Revolução Industrial significou grandes mudanças na economia, especificamente nas relações e condições de produção. No decorrer desses séculos, tais fatos propiciaram uma serie de mudanças nos contextos, políticos, econômicos e sociais, no quais estiveram inseridos os principais teóricos da sociologia.
No inicio do século XIX tem uma situação francesa, de forma geral, pode ser percebida através da disputa entre os que defendiam o retorno às estruturas do antigo regime, os que defendiam a constitucionalização liberal Francesa e também aquele que desejavam mudança, mais radical, nas estruturas políticas , econômicas e sociais. Esse contexto marcado por elementos medievais e modernos foi marcado, mais adiante, pela II república de Carlos Louis Bonaparte (Napoleão III), pela Batalha de Serdan, pela guerra franco-prussiana (1870-1871) e também da comuna de Paris (1871) considerada a primeira experiência de um governo operário, em toda a história da humanidade.
corpos de membros da Comuna de Paris

Na Inglaterra, já administrada por um estado liberal burguês, o grande marco foi a revolução industrial, que veio acompanhada de grandes transformações tecnológicas como a descoberta como o aço, da eletricidade, maquina a vapor e tear mecânico. Ao mesmo tempo em que tais descobertas propiciaram uma maior produção econômica propiciou também mudanças nas relações de trabalho, principalmente na substituição de operários por maquinas, gerando assim grande impactos sociais por meio do desemprego em massa. Tal situação incentivou o surgimento do luddismo, que era um movimento contrario a mecanização e também a formação de outros grupos de reivindicação como por exemplo a Confederação Geral do Trabalho na França.
Operários quebrando máquinas

Tais mudanças foram vivenciadas por teóricos como Auguste Comte, Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx- responsáveis pela formulação da Sociologia enquanto ciência. Esses Sociólogos, ao buscarem explicar como essas mudanças repercutiam nas relações sociais e entender a formação da sociedade daquela época, desenvolveram métodos, teorias e objetos de pesquisa que foram fundamentais para a construção da sociologia. Obras como, O 18 brumário de Louis Bonaparte escrito por Karl Marx, Da Divisão do Trabalho Social de Émile Durkheim e Ética protestante e o espiríto do capitalismo de Max Weber pode ser citadas como exemplo da relação intima entre as experiência contextuais e as obras produzidas por esses autores.




referências :
HOBSBAWM, Eric, A era das revoluções, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2006.
pt.wikipedia.org/wiki/Comuna_de_Paris (imagens)
pt.wikipedia.org/wiki/Luddismo (imagens)